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Artes marciais contribuem para o autoconhecimento

Lutas ensinam a controlar emoções e ter atenção em si mesmo


Foto: Daniil Zanevskiy/Unsplash

Existem várias razões para um aluno entrar para uma academia de artes marciais. Alguns entram para emagrecer, outros para aprender a autodefesa e há ainda aqueles que pretendem aumentar a autoconfiança. Seja qual for a razão que faz com que cada aluno se matricule em uma escola de kung fu, por exemplo, ele aprenderá algo muito importante que servirá para toda a sua vida, em todos os momentos: a atenção a si mesmo.

A atenção começa quando a pessoa se depara com a necessidade de diferenciar a esquerda da direita, a altura de um golpe, a força de seu soco ou chute, ou o controle para não machucar o colega de treino. Essa mesma atenção continua no dia seguinte ao treino, em relação aquele músculo dolorido, que o aluno nem sabia que existia. Atenção às instruções do professor, ao invés do movimento do lado de fora da área de treino.

Atenção ao que interessa

As artes marciais foram se desenvolvendo em épocas de guerra, em batalhas onde perder a atenção significava perder a vida. Esses métodos tornavam não só os guerreiros mais fortes, mas principalmente mais atentos, em todos os momentos. Um artista marcial sabe que o desenvolvimento da sua percepção é para todo o momento. Ele sabe que é uma pessoa só, e aquela percepção ou atenção irá acompanhá-lo a qualquer lugar.

Depois de algum tempo de treino, o praticante das artes marciais começa a perceber que suas notas na escola estão melhorando, que seu desempenho no trabalho está aumentando e que sua família está mais próxima, pois sente que está tendo mais atenção.

Esta percepção começa a se refletir em todos os aspectos da vida do aluno. Ele começa a perceber coisas sobre si mesmo que não notava antes e a prestar mais atenção aos mínimos detalhes de suas ações e atitudes. Sente a água caindo em suas mãos enquanto lava um copo, a textura da comida que está sendo mastigada, assim como o seu gosto. Também passa a perceber os aspectos físicos do seu corpo e de suas ações, que antes passavam despercebidos pela rotina e por nossa reações muitas vezes automáticas, sempre esperando o que está para acontecer e lamentando o que passou, mas nunca presente neste momento.

Ensinamentos marciais

O artista marcial aprende a controlar e sentir o seu corpo em primeiro lugar. Essa é a primeira e mais simples etapa, pois basta a repetição e o treino para atingi-la. Daí vem o controle da mente sobre as ações e reações do corpo. É o controle que impede que o aluno abaixe o braço, mesmo que tenha sido golpeado fortemente nele. Controlar seu próprio corpo significa não deixar que as ações externas interfiram em suas ações.

Esses aprendizados se refletem no dia-a-dia, quando a pessoa passa a não se afetar com as reações enérgicas do chefe ou não perder o controle ao ser fechada por outro carro na rua. Além disso, mantém a mente equilibrada com eventuais problemas familiares, não fica inerte ou indiferente, e é capaz de analisar as situações sem julgamentos para que tenha tranquilidade de chegar à melhor solução. O controle mental permite que a visão não seja nublada e os problemas passam a ser mais simples de resolver.

O praticante de artes marciais aprende na prática a experimentar a turbulência de seus pensamentos, consegue limpar a mente, organizar os pensamentos úteis e usá-los como ferramentas, e não como itens que só atrapalham. A prática da meditação, que faz parte do treino marcial, é essencial para atingir este controle da mente.

Controle emocional é lição valiosa

As artes marciais fazem com que o praticante confronte o seu pior inimigo: ele próprio, representado por suas emoções. O controle emocional exige que a pessoa analise suas responsabilidades, culpas ou ressentimentos. Afinal, o descontrole ocorre quando há consequências negativas de uma determinada situação. Se o artista perder o medo de errar, assumir a sua responsabilidade pelas suas ações e, principalmente, perdoar-se por tudo o que fizer de mal, estará livre do medo das emoções.

Aí o artista marcial conquista o pleno conhecimento de si mesmo, em todos os aspectos, o físico, o mental e o emocional. Controla todos os aspectos da sua vida. Sabe que sua vida está interligada a todas as outras, mas que tem pleno controle sobre suas próprias ações. O praticante de artes marciais vislumbra que aprender a lutar é o caminho, a ferramenta para desenvolver todos os aspectos do seu autoconhecimento, e pré-requisito para o seu autocontrole.

Ele aprende que toda a luta foi para combater a si mesmo, e que ele sempre seria o vencedor no final, e que não existe o inimigo externo. E quando todos chegam a este estágio de desenvolvimento não há mais lutas, somente a paz, pois a verdadeira luta é interior.

E esta é a essência e o paradoxo das artes marciais: aprender a lutar para nunca mais precisar lutar…

Por: Carlos Cesar
Fonte: Personare

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